Cartas a um jovem poeta
"Não escreva poemas de amor; evite por ora as formas mais comuns e correntes: são elas as mais difíceis, pois só uma grande força, já amadurecida, conseguirá criar uma coisa própria por entre a abundância de boas e por vezes brilhantes prestações.Evite por isso os motivos gerais e prefira aqueles que o seu quotidiano lhe oferece; descreva as suas tristezas e desejos, os pensamentos passageiros e a fé numa qualquer beleza- descreva tudo isso com sinceridade íntima, tranquila, modesta, e para lhes dar expressãosirva-se de coisas que o rodeiam, das imagens dos seus sonhs e dos objectos das suas recordações. Se o seu dia-a-dia lhe parecer pobre, nao acuse o de pobreza ; acuse-se a si próprio, reconheça que não é ainda poeta o bastante pata conseguir invocas as suas riquezas; pois para um criador não há pobreza e nunhum lugar é indiferente e pobre. E mesmo que estivesse numa prisão, cujas paredes separassem os ruídos do mundo dos sus sentidos, teria ainda e sempre a ua infância, essa riqueza preciosa e mperial, a câmara do tesouro da lembrança. Dirija a ela a sua atenção. Tente levantar as sensações submersas desse passado longuínquo; a sua personalidade fortalecer-se-á até se tornar uma casa à luz do cair da tarde ou do amanhecer, por onde o ruído dos outros passa à distância. E se, depois deste movimento de instrospeção, depois deste mergulho no seu próprio mundo, se depois nascerem versos, já não lhe ocorrerá perguntar a alguém se eles são bons."
Rainer Maria Rilke
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