Escrever..

Não me apercebi que escrever tinha já uma importância tão grande para mim. Nunca fui este tipo de pessoa, que escreve o que sente, que sente o que escreve, e que só sente verdadeiramente quando esboça esses sentimentos .. nunca tive um diário no qual registasses as minhas trapalhices, aventuras e até os dias mais pacatos.. nunca tive um caderno onde fosse rabiscando pensamentos. Nunca senti que as folhas brancas me chamavam para as preencher com a tinta dos meus sentimentos. Nunca senti que um texto ficasse realmente completo com as minhas palavras desajeitadas e que pouco sabem. As centenas de histórias que comecei ficaram sempre por acabar, por não merecerem ser acabadas. Histórias de amores impossíveis, de criaturas que apenas existem no nosso imaginário e às quais nunca consegui dar vida, abandonadas, apagadas, sem chegarem a ter um fim. Deixei então de ter a coragem para começar novas histórias, para tentar criar personagens que sabia que iriam ter um inicio atribulado e confuso, sem nunca chegarem a ter um rumo para tomar.Passei apenas a escrever para algumas pessoas mais próximas. Escrevia sobre os tempos que passávamos juntos, sobre as gargalhadas e as lágrimas partilhadas, aqueles momentos que nunca irão abandonar a minha memória. Escrevia sobre essas pessoas e para essas pessoas. Escrevia sobre amizades eternas. Mas aprendi a deixar de me esconder por detrás dessas palavras bonitas e floreadas que muitas vezes acabavam por distorcer a realidade e descobri a beleza de se pronunciar essas mesmas palavras de forma orgânica e espontânea. E por fim deixei de escrever. O único contacto que tinha com esta forma de expressão eram as composições exigidas pelos testes de Português, mas não é possível comparar o que se sente ao redigir um texto sob pressão, tendo de nos cingir a  certos limites e a um tema concreto e o que se sente ao escrever porque sentimos necessidade de escrever, escrever por escrever, sobre tudo e mais ainda.
Não sei de onde surgiu de novo esta vontade imensa de escrever. Esta vontade de simplesmente deixar as palavras fluírem ao seu próprio ritmo, dançando à minha volta, cantando ao meus ouvidos belas melodias que me fazem ter vontade de apenas ver e ouvir o que suavemente me dizem. Palavras que me ajudam a compreender o que realmente se passa dentro da grande confusão que vai na minha mente, palavras que organizam os meus sentimentos e pensamentos contraditórios, que acalmam a ansiedade que pesa no meu peito e que livram da angustia que não me deixa respirar. É incrível como podia passar meses e meses sem sentir vontade de escrever, sentido-me impotente face a este desafio demasiado grande para a fragilidade das minhas palavras simples, mas agora apenas assim consigo alcançar alguma calma, alguma paz. Agora quando algo está mal apenas tenho vontade de escrever para que esse peso possa abandonar o meu peito e deixar-me dormir descansada. Escrever faz parte de mim agora..


"Ou escreves algo que valha a pena ler, ou fazes algo acerca do qual valha a pena escrever. "
( Benjamin Franklin ) 

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